TERCEIRO ANDAR | LUCIANA FINA

instalação, díptico 2015

 

INAUGURAÇÃO 8 DEZ | 17H

Exposição Espaço Mira, Porto

8 DEZ 2015 a 9 JAN 2016  (17h - 19h)

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Concepção e Realização Luciana Fina
Com Fatumata Baldé e Aissato Baldé
Imagem Helena Inverno
Som Olivier Blanc, Miguel Cabral
Maquinaria travellings Marcello Urgeghe
Fotografia travellings Rui Xavier
Montagem Luciana Fina
Assistente Rui Silveira
Colorista Marco Amaral
Misturas de som Tiago Matos
Assessoria de gestão Paula Varanda
Apoio à produção BEST Patrícia Faria
Assistência curatorial Porto Patrícia do Vale
Agradecimentos Manso Baldé e família, inquilinos e vizinhos do prédio, Luísa Homem, Ana Fontoura,
Filipe Pereira, João Ribeiro, Lidia Apa, Odete Semedo, Miguel Nabinho, Anil Jaintilal, Entre Imagem.
Produção LAFstudio Produtor associado TERRATREME
em colaboração com Balleteatro | Espaço Mira
Apoio Fidelidade Property
Apoio equipamentos Ricochete Filmes | Screen Miguel Nabinho | Cineset
Projecto financiado por DGARTES Governo de Portugal | CML Câmara Municipal de Lisboa

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SINOPSE

O edifício é uma trama de sons regulares, sempre iguais, como o bater do coração" (Italo Calvino)

Centro histórico de Lisboa, Bairro das Colónias, terceiro andar.
Fátima e Aissato são mãe e primogénita de uma numerosa família guineense. Narrativas e línguas diversas, adquiridas em etapas diferentes da vida, foram determinando os seus sentimentos. Transmitindo e traduzindo o cruzar sensível de diversos universos, mãe e filha dialogam em torno da ideia do amor e da construção da felicidade. Fátima chegou a Lisboa há 18 anos de Contubuel, pequena aldeia perto de Bissau, depois de casar com o Presidente da Associação dos Muçulmanos Guineenses em Lisboa. Tem agora seis filhos. Aissato fez 18 anos, vai terminar o liceu e planeia estudar Direito islâmico na Inglaterra. Às sete da tarde, do terceiro até ao meu quinto andar, ressoa pelo prédio o som do pilar da pimenta e da mandioca.

 

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“O edifício é uma trama de sons
regulares, sempre iguais, como o bater
do coração.
O bater de uma porta… alguém a correr
pelas escadas, largos minutos de
espera…
Será que existe uma história que liga
um ruído ao outro?
E se existe uma história…
É uma história que te concerne?
Uma série de consequências que
acabará por te envolver?
Ou trata-se apenas de um episódio
indiferente dos muitos que compõem a
vida quotidiana do edifício?
Cada história que julgas adivinhar remete
para a tua pessoa.
Nada acontece no palácio em que não
tenhas parte, activa ou passiva.”

Italo Calvino (in Sob o Sol Jaguar)

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NOTAS DE REALIZAÇÃO

Fátima e Aissato, mãe e primogénita de uma numerosa família guineense, vivem em pleno centro histórico de Lisboa, num prédio do Bairro das Colónias, edificado nos anos 30. São inquilinas do terceiro andar. Junto com o pai, os outros cinco filhos e um jovem primo, Fátima e Aissato habitam o prédio onde também vivo há 24 anos, partilhando pequenos e grandes momentos, fases da vida, sentimentos e celebrações, nascimentos e baptizados, economias e barafundas. Fátima chegou a Lisboa há 18 anos de Contubuel, uma pequena aldeia perto de Bissau, depois de casar com o marido, desde há 22 anos Presidente da Associação dos Muçulmanos Guineenses em Lisboa. Tem agora seis filhos. Aissato nasceu em Lisboa. Tem 18 anos e onze irmãos da parte do pai, vive no prédio com os outros cinco filhos da Fátima. Este ano escreveu a sua primeira carta de amor. Frequenta o quinto ano do Liceu e planeia estudar Direito Islâmico em Inglaterra. Nas suas vidas de mulheres de diferentes gerações, narrativas e línguas diversas, adquiridas em tempos e etapas distintas de vida, foram determinando os seus sentimentos. Uma ideia de felicidade, a noção da vida, da maternidade ou do amor, surgem no confronto com universos culturais, linguísticos e religiosos muito distantes. Nesse confronto, vive a transmissão da experiência no feminino de uma geração para a outra. Estabelecer uma relação com o universo de duas mulheres guineenses, mãe e filha, abre a hipótese de um encontro. O Cinema torna-se oportunidade para um confronto com uma condição feminina peculiar — pela relação com as raízes africanas e a religião muçulmana, com o mundo europeu e Portugal — que acaba por interpelar de forma global o universo feminino contemporâneo. Às sete da tarde, do terceiro andar até ao meu quinto andar, pelo prédio inteiro, ressoa o pilar da mandioca. O som sobe escadas e patamares, atravessa paredes, portas e corredores, habita as casas e as cozinhas, as varandas interiores, o prédio inteiro, em toda a sua complexidade e permeabilidade. Aissato, como lhe chamam em casa, é também Aisha; Fátima, como é chamada na rua, para a família é Fatumata. Falam línguas diferentes, Fátima fala fula, usa também o português e o crioulo de Bissau, Aissato fala português, entende e fala o fula e o inglês bastante bem, gostaria de apreender francês. Ambas vão lendo e aprendendo o Corão em língua árabe. O multilinguismo, a procura do entendimento entre mãe e filha, também linguístico, tornam-se matéria sensível para a escrita cinematográfica. Protagonistas do filme são a sensibilidade e o pensamento no feminino, a transmissão e a tradução, a relação com a tradição e a herança, os dialectos e as línguas, a educação sentimental, a dimensão da casa e da cidade, a maternidade e uma ideia do amor, a aprendizagem e a experiência, as memórias, os sonhos e os contos das duas mulheres. O Cinema por natureza foca, selecciona, capta, amplia e desmultiplica. E produz imagens que ligam e habitam, à procura de um lugar não apenas para contar, mas para criar ligações, admitindo o compatível e o incompatível, o cruzar sensível de diversos mundos. De acordo com a minha prática cinematográfica e artística, este projecto vai desdobrar-se numa instalação para espaços expositivos e um documentário. A instalação, concebida como um díptico, convida o espectador a habitar o espaço físico, sonoro e linguístico do diálogo entre Fátima e Aissato. Na composição das imagens, em dupla projecção, o mundo que o prédio encerra e envolve, o interior, as escadas, a interligação sonora entre os espaços. E os dois rostos, o da mãe e o da filha, num
diálogo entre duas gerações. A palavra e as diversas línguas abrem e articulam a complexidade desse espaço convocando nele múltiplos universos.

 

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LUCIANA FINA | NOTAS BIOGRÁFICAS

www.lucianafina.net

Nasce em Bari, trabalha desde 1991 em Lisboa. Estuda Literatura portuguesa e francesa na Universidade de Bari, conseguindo o grau de Mestre com a tese "O Cinema Colonial Português, do Cinema Mudo à Missão Cinegráfica". Bolseira em Portugal em 1983, 1986 e 1991, estuda Literatura Portuguesa e Africana na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Completa a formação com cursos de Estética, Estudos Artísticos e Cinema, na Universidade Nova de Lisboa. Curadora independente, nos anos 90 colabora com a Cinemateca Portuguesa, Teatro Rivoli, Culturgest, instituições em Itália, França e Brasil. Entre 1992 e 1995 é codirectora da Real/João Fiadeiro. Artista visual e documentarista, utiliza diversos media e concentra a sua investigação sobre interculturalismo e a relação do Cinema com as outras Artes. Em 1998 realiza o primeiro filme documentário. Entre 1999 e 2001 é responsável pela criação, produção e circulação da exposição itinerante pelas 18 capitais de distrito “Encontros - histórias dos ciganos entre nós”. Tem lecionado regularmente sobre a relação da imagem com as outras artes (IADE, ETIC, Fórum Dança, CEM, Centro Cultural Cascais, NEC, Fundação Calouste Gulbenkian). É autora de textos e coordenadora de diversas publicações sobre cinema. Trabalhou em projetos fotográficos, gráficos e editoriais com o Festival Alkantara e o Teatro Maria Matos (2001/13). Desde 2003, com os Film Portraits (instalações fílmicas), tem apresentado o seu trabalho em Portugal,

França, Itália, Inglaterra, Suécia, Noruega, México, Uruguai, Brasil, Canada, Estados Unidos. Destaca a participação na Bienal de Lulea, Suécia 2006 e Bienal de Veneza, Pavilhão Itália no mundo 2011; as exposições no CAM Gulbenkian e Fundação Serralves 2002; CCB 2003 e 2012; Museu do Chiado e La Villete Paris 2004; Galeria de Arte Cinemática Solar 2006; Espaço do Tempo 2006; Stenersen Museum Oslo 2009; Galeria Diário de Notícias 2010; Matadero Madrid 2012. Em 2014 participa nas exposições: "Habitar a Coleção" Fundação Medeiros e Almeida Lisboa, "Ê̂tre Ici" Villa Mimi Calpe Tânger. Com o documentário “In Medias Res” ganha o Prémio Melhor Filme Nacional do Arquitecturas Film Festival e Menção Honrosa do Temps d'Images Filmes sobre Arte.

 

Filmografia

1998 A Audiência (doc 76’), PT

1999 Jérôme Bel, le film ( 55’) FR

2001 24h e Outra Terra (doc 45’) PT

2003 Taraf, três contos e uma balada (doc.42') PT

2004 O Encontro (doc 61'), PT

2006 Le Réseau (doc 68') FR/I/PT

2009/12 Portraire, cadernos (film essai)

2013 In Medias Res (doc 72') PT