Uma das funções frequentes do cinema de arquivo é a articulação visual da passagem do tempo — ou seja, da mudança ao longo do tempo. Em trabalhos anteriores, explorei a experiência de “disparidade temporal” como um dos elementos constituintes do chamado “efeito de arquivo”. No entanto, por vezes, essas disparidades acumulam-se e revelam não apenas a diferença, mas uma verdadeira transformação. A capacidade tecnológica de armazenar fragmentos audiovisuais do presente com vista a uma retrospecção futura levou alguns artistas da imagem em movimento a produzir e guardar imagens com a intenção deliberada de serem observadas retrospectivamente, revelando, assim, aquilo que no presente permanece invisível. Trata-se de um gesto semelhante ao de enterrar uma cápsula do tempo. Com efeito, a experiência de diferenças sequenciais pode gerar uma percepção reveladora do tempo — uma percepção que não seria acessível por nenhum outro meio. Refiro-me a esta prática como “antecipação arquivística”: um olhar lançado para o futuro com a promessa de um olhar que virá do passado.
Esta masterclass será conduzida em inglês e requer inscrição prévia através de formulário para garantir lugar. A entrada é gratuita, mas é necessário levantar bilhete.