Cineasta e artista italiana, trabalha em Lisboa desde 1991. Investigando as hipóteses do Cinema no campo das Artes, tem desenvolvido um trabalho destinado a salas de cinema, palcos, museus e galerias. Após a formação em Literaturas Românicas, inicia uma longa colaboração com a Cinemateca Portuguesa como programadora. Em 1993 cria a primeira instalação Super 8 para o palco, “Branco Sujo” coreografia de João Fiadeiro. Estreia-se na realização em 1998, integrando a geração de realizadores e realizadoras que deram nova vida ao documentário em Portugal. Entre 2002 e 2003, com a instalação CCM na Fundação Gulbenkian e o tríptico CHANTportraits no Museu do Chiado, focando os temas das migrações e do retrato, dá início ao seu percurso em espaços expositivos. O extenso corpo de trabalho, filmes, instalações fílmicas e site-specific, tem sido apresentado internacionalmente em festivais de cinema e exposições, estando representado na Colecção Moderna do Museu Calouste Gulbenkian, na Colecção Nouveaux Medias do Centre Georges Pompidou e na Colecção de Arte Contemporânea do Estado. Entre as obras mais recentes “In Medias Res” (2014), Prémio Melhor Filme Português Arquiteturas Film Festival, Menção Honrosa Temps d’Images Film on Art Award; “Terceiro Andar” 2016, exposição Museu Gulbenkian, Doclisboa, 34o Torino Film Festival; “Questo è il piano” 2020, Doclisboa e MNAC; projecto “Andromeda”, exposição Carpintarias de São Lázaro/Festival Temps d’Images 2021. Professora convidada no Ar.co, História(s) do Cinema. Investigadora em Artes da Imagem em Movimento, colaboradora do Centro de Investigação e de Estudos em Belas- Artes (CIEBA), Universidade de Lisboa, Faculdade de Belas-Artes.
17 OUT 21H15 BATALHA CENTRO DE CINEMA SALA 1 73’
2023 | PORTUGAL ITÁLIA | DOC/EXP | 73’
Andromeda convoca o pensamento crítico, a expressão artística e cinematográfica inscritos no palinsesto da televisão italiana nos anos 1960 e 1970. É a primeira idade do projecto público televisivo, utópica e iluminada, mesmos anos em
que o cinema questiona profundamente a sua relação com o real e em que surge a resposta experimental da videoarte. Curto-circuitando memória subjectiva e memória colectiva, bem como a condição do proto e do pós-espectador, o filme documenta e revitaliza a complexidade das ideias e das artes num momento singular da história da imagem.
NOTAS DA REALIZADORA
Voltar a ver não diz respeito ao passado, é uma exploração de possíveis deslocações entre o passado e o presente. Orienta-me uma ideia de transitoriedade no tempo, resgatar as imagens do arquivo através do anacronismo da memória e dos afectos, des/ arrumar o meu/nosso olhar sobre esse tempo na relação/presença do nosso olhar/pensamento diante do ecrã. As imagens do passado olham para nós e pedem para comparecermos diante delas.
Não se trata de rever para lembrar, de ordenar as imagens e os acontecimentos que ocorreram, em forma de relato ou de análise. Nas operações de montagem mergulho no arquivo para associar momentos e movimentos, entrar na memória dos meus e dos nossos gestos e descobrir o gesto e a frequência que, agora, acontecem.
Esbatendo os limites entre o documento e a invenção, revitalizando o confronto com o novo meio pela intermediação da figura de uma jovem e inventiva telespectadora que gere o dispositivo e o fluxo das imagens, coloco o espectador entre o tempo da primeira idade da televisão e o tempo real da sua presença, entre a memória e a imaginação, a utopia e a experimentação. Outrora e Agora, entre o passado e o presente poderá também acontecer uma ideia de futuro.
18 OUT 18H00 BATALHA CENTRO DE CINEMA SALA 2 60’
Na masterclass partilho a investigação que acompanha o projecto ANDROMEDA, revisitando materiais do filme e da exposição.
Cruzando tempos e diversos campos do pensamento, configuro hoje novos caminhos de investigação, na alegria de uma reinvenção. Escrevo pela primeira vez um filme concebido a partir do arquivo, daquele imenso corpo de imagens que tem continuado a crescer, imparável e a cada instante, enquanto procuramos temerariamente uma forma possível de lidar com a nossa memória. Somos formados por aquilo que vemos e criar imagens hoje acaba por nos impelir a falar também das imagens que já temos dentro de nós.
Respigando no arquivo televisivo e na memória subjetiva e coletiva, articulando vozes, textos e materiais diversos, Andromeda ensaia também mover-se entre a forma expositiva e a forma fílmica. As sucessivas experiências de composição e montagem, destinadas à sala de exposição, à sala cinematográfica ou à sala de conferência, vão reconfigurando a proposta diante do espectador contemporâneo, homo spectator-visitor.
Masterclass em parceria com Instituto de Filosofia da Universidade do Porto
14 OUT / OCT 18H00 EDITORIA
DE 14 OUT A 14 NOV DAS 14H00 ÀS 19H00
Com o aparecimento do meio televisivo, perante a novidade do directo, o cinema reagiu questionando a fundo a construção do seu olhar sobre o mundo. Para Jean Renoira nova linguagem televisiva inspirava uma revisão profunda dos métodos de rodagem e de produção, da primaziado olhar do realizador sobre o real. Na recém nascida RTF, com o programa La clé des songes, em 1950, Chris Marker requisitava o capital onírico do espectador para a dimensão pública da televisão. Para Roberto Rossellini, que na última fase da sua vida se dedicou ao projecto enciclopédico de uma televisão humanista, cinema e televisão eram dois meios que podiam e deviam ser utilizados para o alargamento do conhecimento, chegando e tocar o mesmo público.
Surgiam internacionalmente todas as televisões possíveis.
A televisão pública aparentava poder criar, educar e reflectir sobre o mundo para o qual se dirigia, desenvolvendo publicamente um pensamento crítico sobre a construção do seu projecto. Estava em campo a grande complexidade do novo meio, testemunhada por visões utópicas e participativas de muitos artistas e cineastas, bem como pelo corpo a corpo com a televisão que Pier Paolo Pasolini soube estabelecer, trazendo para o debate público a consciência do genocídio cultural e linguístico em curso e uma crítica feroz ao sistema da comunicação de massa. A exposição articula as vozes destes cineastas com a matéria fílmica dos programas televisivos citados no filme Andromeda, os fotogramas que revelaram a sua materialidade na junção dos planos.