15 NOV & 18 NOV | 22H00 | PASSOS MANUEL
Regina Guimarães, aka Corbe, nasceu no Porto, em 1957. A par dos seus poemas, publicados em raras edições de natureza confidencial, tem desenvolvido trabalho nas áreas do Teatro, da Tradução, da Canção, da Dramaturgia, da Educação pela Arte, da Crítica, do Vídeo, do Argumento, da Produção. Foi docente da FLUP, na ESMAE e na ESAD. Foi directora da revista de cinema A Grande Ilusão, presidente e fundadora da Associação Os Filhos de Lumière, programadora do ciclo permanente O Sabor do Cinema no Museu de Serralves. Integrou o colectivo que, a par de outras actividades reflexão e criação, publicou o jornal PREC. É co-fundadora do Centro Mário Dionísio - Casa da Achada. Com Ana Deus, fundou a banda Três Tristes Tigres. Trabalhou para outras bandas, nomeadamente o Osso Vaidoso e os Clã. Realizou inúmeras experiências em torno da palavra dita e cantada. Organiza, de há oito anos a esta parte, a LEITURA FURIOSA Porto, encontros entre escritores e pessoas zangadas com a leitura. Tem orientado oficinas de escrita (quase 90 obras, dos quais alguns em parceria com Saguenail) e de iniciação ao cinema. Tem realizado uma extensa obra videográfica sob a forma de «Cadernos», que já foi alvo de algumas retrospectivas. Aspira a estar em todo o lugar onde haja uma luta justa a travar. Vive e trabalha com Saguenail desde 1975. Hélastre é o signo da sua obra comum.
"Viver quotidianamente com a inquietude do Saguenail, um criador de imagens, viver com ele a aventura dessa criação levou-me a desejar, de uma maneira muito diferente da sua prática, filmar e montar imagens ingénuas que fossem um prolongamento do meu trabalho de escrita: álbum, carta, recado, reza, refrão. A gaveta. O escuro da despensa, o pó do sótão, o bolor da cave. O longínquo fundo do quintal.
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Primeiro foi tudo feito com grandes ajudas e pequenas clandestinidades. Depois perdi a vergonha e peguei eu mesma na câmara. O jogo do esconde-mostra do enquadramento, a paixão da parte-como-todo fizeram o resto do meu tirocínio. Filmar tem-me sido aprender a ver. Montar tem-me sido o conhecimento do que permanece entre a despeito da continuidade. Olhar a falha com olhos em falha.
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Os cinco sentidos estão votados a um trabalho de perpétua reconstituição. Se sentir é fabricar memória, os meus cadernos querem ser pequenos laboratórios da lembrança. Há neles a força do que desaparece sem partir com o rabo entre as pernas e contudo pode mais umas vezes cair-nos nos braços quando a luz dos olhos se acende.
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Filmei a minha cidade, a minha rua, a minha família. Sobretudo a família alargada do que me é familiar ou do que se torna familiar por ter sido filmado. Porém atenção: doméstico mas não domesticado.
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Imagens, seres, coisas e paisagens desaparecerão em tempos incoincidentes. Pudera eu captar e partilhar essa incoincidência rodeada de esperança por todos os lados..."
Regina Guimarães (Agosto de 2017)
(1989 | 8’10”)
Em torno do Fado da Samaritana, cantado, em off, por uma freira muito grávida, articulam-se escritas de cidade: alegrias e nojos, cantilenas e lengalengas. Haverá sismo que nos abale?
(1996 | 7’10”)
Uma meta-Europa transgeracional, com um sorriso guloso na boca, um espelho na barriga e um piano na cauda.
(2001 | 8’30”)
Uma procissão na aldeia a partir da qual se fixou uma mitologia da infância. Uma visita ao rio onde outrora o corpo rejubilou. Um regresso à cidade onde se acumulam sinais de inquietude.
(2007 | 12’)
As oliveiras como velhas senhoras, os sobreiros como robustos rapazes marcados a ferros. TRONCO E NU é uma tentativa de registar o caleidoscópio alentejano, uma ofegante suite musical.
(2010 | 10’20”)
Filmado principalmente em Ljubljana, URSAS MENORES narra a história da bela Urska que o rio ininterruptamente traga e volta a trazer à vida.
(2014 | 19’40”)
Entre a pintura de um cenário de cidade, na sala do Theatro Circo de Braga em obras, e um jogo surrealista de adivinhação onde se convoca a figura de Sócrates através da descrição de uma singular polis, entre o velho Paris, caro a Baudelaire, e a urbe reorganizada para obstruir insurreições, dois lustres e pouco mais…
(2013 | 35’10”)
Filmado na Provença, LUZ é uma conversa e uma meditação com SAGUENAIL acerca do seu filme-farol LA REVOYURE. Em LUZ utilizam-se as imagens não montadas por Saguenail.
(2000 | 3’)
À MESA (1 & 2) é um díptico no qual, além de um devaneio cinético, se fixa o olhar sofredor do Pai em declínio e o olhar inquiridor da Filha em crescimento. Entre um e outra, correm obscuros rios.
(2010 | 31’)
No Porto, as traseiras são mais ingénuas e irremediavelmente vividas do que as fachadas. Lugares onde se viveu de mais e, por isso mesmo, podem ser esquecidos. Ou passar despercebidos.
(2013 | 29’40”)
Terceiro painel de um tríptico que inclui CASA-MÃE, NATUREZA-MORTA e ÂNGULO MORTO, PEQUENOS TEATROS DE RUA é uma reflexão sobre o modo peculiar como o Porto se encena nas montras do coração da cidade e também uma divagação em torno do que elas reflectem...
(2010 | 25'50")
Após uma visitação da história do nu na pintura, dois velhos amantes cometem este filme a quatro mãos no qual trocam imagens um do outro. A representação bidimensional abalada pela desconstrução cubista dialoga com volumes de carne e luz.