city play
paloma yanez serrano
O jogo, embora muito presente culturalmente no Cairo, é visto como uma forma de entretenimento ao invés de uma característica humana endógena. Como tal qualquer debate sobre o jogo é excluído das políticas educativas e consequentemente do sistema de ensino. Isto chamou-me a atenção em 2012 quando contribuí para a criação do primeiro cenário educacional baseado no jogo no Cairo. Este projeto foi inspirado pelo modelo educacional minicidade, presente em mais de 70 países do mundo, e tomou o nome de Mini-Medina (minicidade em árabe). O projeto pretende criar um cenário simulado de cidade em tamanho real para que as crianças aprendam os mecanismos de uma cidade, imaginando a sua cidade ideal e o seu papel na sociedade. Durante a infância todas as crianças passam por um processo de descoberta no qual constroem um sentido de si próprios e do mundo usando a sua experiência e imaginação. Este filme é uma jornada apresentada em dois ecrãs contrastando os diferentes papéis que as crianças podem assumir na cidade e mais tarde como esses papéis se transformam à medida que elas crescem. Explorando as diferentes interpretações e desejos da vida quotidiana que as crianças têm na cidade, revelando como no jogo a criança aprende a adaptar-se à cultura enquanto adquire ferramentas para recriar e reinventar a sociedade. O filme, rodado no Cairo, procura retratar as diferentes formas que as crianças têm de jogar na cidade e jogar a cidade, experimentando com a linha ténue que distingue o jogo da realidade.
Paloma Yáñez Serrano tem produzido filmes independentes nos últimos cinco anos. Enquanto aluna de Políticas do Médio Oriente viajou para o Líbano e a Jordânia para filmar dois documentários curtos sobre o quotidiano e o conflito os jovens palestinianos refugiados. Mais tarde mudou-se para o Egipto onde passou três anos a documentar vários acontecimentos da Revolução Egípcia e onde também foi cofundadora de um projeto educativo alternativo intitulado Mini-Medina, ensinando educação cívica através de cenários simulados a crianças e jovens. Procurando expandir a pesquisa e métodos na técnica de filmagem, estudou Documentário Etnográfico no Granada Center of Visual Anthropology da Universidade de Manchester, onde produziu uma seleção íntima de curtas-metragens de histórias de cidadãos britânicos, de prestadores de cuidados a dançarinas do ventre, que partilham com a audiência os seus problemas quotidianos e a sua filosofia de vida. Em Manchester foi cofundadora do Other Collective, formado por jovens realizadores independentes europeus, realizando várias curta-metragens e ganhando o prémio Europe at Heart 2014. Regressou recentemente ao Egipto para realizar um filme participativo com crianças e jovens sobre o significado do jogo depois da Revolução Egípcia, debatendo diferentes visões das crianças em relação à política, educação, feminilidade e polícia, fornecendo uma imagem do quotidiano do Cairo que estava indocumentado no contexto atual. Durante os últimos meses tem concentrado as suas energias no arranque de Big Tree Productions, uma companhia de produção emergente focada em projetos criativos participativos. Durante Fevereiro de 2015 filmou e produziu um documentário sobre jovens músicos congoleses a viver em North Kivu, uma das áreas mais violentas e pobres do Congo com grandes talentos escondidos. Prepara agora três novos projetos no Brasil, Colômbia e Perú, onde a companhia produzirá três documentários independentes com três workshops intensivos de produção de documentários com a população local.