Um dia, andava pela feira da ladra de banca em banca à procura de qualquer coisa que me faltava para o meu filme A Metamorfose dos Pássaros. Não me recordo daquilo que buscava mas lembro-me de parar numa mesa que vendia fotografias de pessoas cujas vidas desconhecia. No meio desses registos encontrei uma fotografia passe de uma amiga minha: olhei duas vezes para ter a certeza de que era ela e, de forma a salvá-la daquela estadia no meio de anónimos, trouxe-a comigo e carrego-a agora na minha carteira até que nos encontremos. Antes de morrer o meu avô pediu aos filhos que queimassem todas as cartas trocadas entre ele e a minha avó. Certificou-se também de que as fotografias ficavam bem entregues: desde as fotografias de família até às suas fotografias de passe. Percebo hoje em dia que o meu avô sabia que, há fotografias e cartas com vidas próprias que percorrem caminhos misteriosos até à feira da ladra e outras como esta. Percebi que com a Metáfora ou a tristeza virada do avesso e A Metamorfose dos Pássaros que, por mais que tentemos controlar as nossas memórias e guardá-las em sítios onde achamos que as vamos encontrar, elas acabam sempre por encontrar os seus caminhos, entre a realidade e a ficção.

biografia

Catarina Vasconcelos nasceu em Lisboa em 1986. Estudou na Faculdade de Belas Artes de Lisboa e fez uma pós graduação em Antropologia Visual no ISCTE. Fez um mestrado em Comunicação Visual no Royal College of Art, Londres, onde realizou a sua premiada primeira curta-metragem, Metáfora ou a tristeza virada do avesso. Encontra-se neste momento a realizar o seu próximo filme Amores distantes e pátrias imaginadas.

voltar