NATUREZAS MORTAS (EM SEIS MOVIMENTOS)
VITOR MAGALHÃES
O filme está estruturado em sequências de fotogramas encontrados de um grupo heterogéneo de cerca de 70 filmes, nos quais, em determinados momentos, os atores permanecem ocultos pela câmara. Nestes momentos, ou naqueles instantes imediatamente antes de os atores entrarem no set, somos confrontados apenas com os cenários. Estes cenários sugerem, assim, instantes de pausa, naturezas mortas em intervalos de montagem. Divididos em seis “capítulos”, ou “movimentos”, cada um colocando uma questão diferente (na verdade, redigidas como afirmações, mas convertidas em perguntas), funcionam como salas de pensamento, como mundos dentro de mundos enredados na complexa condição humana (demasiado humana!). As frases suspendem, deliberadamente, o significado e relacionam-se, de formas muito diversas e associativas, com distintos conteúdos presentes nos fotogramas imersos em luz e objectos (salas com cadeiras, mesas, candeeiros, televisores, roupas, livros, etc., ou espaços onde a atenção recai nas portas, em escadas, ou corredores). Sem a presença da figura humana, a mais elevada manifestação visual e sonora no cinema narrativo, os objectos e os ambientes dos décors oferecem um vasto leque de possibilidades entre texto (perguntas) e imagem (planos), como um livro aberto.
A sua prática artística abrange diferentes áreas: instalação, desenho, fotografia, vídeo e arte sonora. Os processos de memória numa leitura arqueológica e crítica dos modos de representação da realidade; a acção do tempo em contextos trans-narrativos; a desconstrução fenomenológica e antropológica dos objectos e dos lugares; as relações entre imagem e texto; e a praxis conceptual-diagramática, são alguns dos temas e metodologias de trabalho adoptadas no desenvolvimento dos seus projectos. É professor na Faculdade de Artes e Humanidades da Universidade da Madeira. www.v-magal.com