O CINEMA E O TEMPO NO NOSSO TEMPO SEM TEMPO
FERNANDO JOSÉ PEREIRA
As imagens neste início de século têm vivido numa condição absolutamente adversa. As alterações tecnológicas que estamos a vivenciar e a assistir, quais espectadores, numa sucessão cada vez mais rápida da sua evolução, colocam problemas novos. A arte e o cinema não são, assim, excepções. Bem pelo contrário. É aqui que estão a ser experimentadas as maiores transformações. Duas delas têm grande relevância para esta discussão: as temporalidades cada vez mais comprimidas e uma constante evolução em torno da autonomização tecnológica, mascarada de democrática, e que permite a massificação das imagens. Quer dizer, a troca conceptual da noção de qualidade pela de quantidade. Que posicionamentos serão, assim, possíveis para artistas e cineastas continuarem a trabalhar fora desta construção territorial ao qual não querem pertencer? Que fazer saber para um tempo sem tempo para reflectir? Porquê ser inactual nessa construção semântica que se chama actualidade? Estas são perguntas sem resposta, estas são questões que diariamente são colocadas e que só poderão ser “respondidas” com o próprio trabalho sensível.
Fernando José Pereira. Porto, 1961, Vive e trabalha no Porto, é membro fundador e actual co-director da VIROSE, www.virose.pt e do colectivo de música electrónica experimental Haarvöl. Membro integrado do Instituto de Investigaçã o em Arte e Design (Universidade do Porto) e do Grupo de Estética e Teoria das Artes da Faculdade de Filosofia da Universidade de Salamanca. Artista multidisciplinar com preponderância nas imagens movimento. A sua atividade filmográfica situa-se numa fronteira porosa entre as artes plásticas e o cinema. Os seus filmes passam, por isso, tanto em espaços expositivos como em Festivais de Cinema: “Por i”, apresentaçã o do filme com banda sonora ao vivo na secçã o Art Directions: sound / vision do International Film Festival of Rotterdam, 2023. “Novas da Infestaçã o”, Festival Internacional do Filme Etnográfico do Recife, Brasil). 2021. “Now (Post Mortem)”, Filmóptico, Art Visual and Film Festival, Barcelona, Catalunha; 2021. “Now (Post Mortem)”, (Latino and Iberian Film Festival at Yale – LIFFY), USA; 2020. O laboratório, Incuna International Film Festival (Mençã o do Júri), Gijón, España. 2018. O laboratório, programa do Festival Porto Post/Doc, Porto, Portugal. 2018. “novas da desolaçã o”, (The 10th Berlin International Directors Lounge [DLX], Berlin), 2013. Autor do livro “Arctic Cinemas: Essays on Polar Spaces and the Popular Imagination” Ed. Kylo-Patrick Hart; McFarland & Company, Inc, Publishers, North Carolina, USA.