Lançamento de livro

AESTHETIC AUTHENTICITY IN CINEMA

EDITADO POR FILIPE MARTINS

AUTORES:
CHRISTA BLUMLINGER
DAVID LAROCCA
FERNANDO JOSÉ PEREIRA
FILIPE MARTINS
HUMBERTO MARTINS
MARIA AUGUSTA BABO
PAULA RABINOWITZ
PETER FREUND
SÉRGIO DIAS BRANCO
SUSANA NASCIMENTO DUARTE


O realismo constituiu-se desde muito cedo como um dos grandes pilares orientadores da teoria cinematográfica, a par com o formalismo. O caráter realista do cinema é um lugar-comum que se funda, desde logo, na própria natureza técnica do dispositivo. No entanto, para lá desta premissa básica, podemos identificar abordagens muito distintas ao realismo no cinema – ou, se preferirmos, realismos distintos. A mesma obra cinematográfica pode ser lida à luz da sua materialidade técnica e formal, do rigor epistemológico ou testemunhal do seu conteúdo, da fidelidade mimética (verosimilhança), da correspondência com a verdade sensível e imanente das suas imagens (no sentido deleuziano, por exemplo), da literalidade semântica, da relevância ética, da capacidade de produzir efeitos poéticos ou performáticos de autenticidade, etc. Haverá versões mais ingénuas do realismo – que o relacionam diretamente com o literal, o natural ou o factual – e haverá versões menos ingénuas que abraçam a inevitabilidade da performance e do artifício, mesmo que, ao mesmo tempo, procurem ainda preservar, ou até intensificar, alguma forma de verdade ou autenticidade. É o que, por exemplo, propõe Werner Herzog ao destacar a subjetividade e o esforço poético implicados no cinema, incluindo no cinema documental. Nas suas palavras: “Existem camadas mais profundas de verdade no cinema e existe uma verdade poética e extática. É misteriosa e indescritível e só pode ser alcançada através da fabricação, imaginação e estilização”. 


Toda a arte busca algum tipo de autenticidade ou “verdade”. Podemos reconhecê-la na ficção ou no documentário, na pintura ou na fotografia, na obra abstrata ou figurativa. A autenticidade pode ser acusada no imediatismo da matéria sensível ou na honestidade de uma proposta puramente concetual; pode emanar da aura do objeto singular ou prevalecer no múltiplo e no efémero; ligar-se à exterioridade objetiva ou apelar a uma interioridade fenomenológica (ou até instalar-se no limiar percetivo entre exterior e interior, como no impressionismo); pode ser mimética, resultado de um esforço técnico de minuciosa recriação, ou, pelo contrário, investir no avesso da técnica e da estruturação, enaltecendo o caos, a aleatoriedade ou a passividade do artista, para que este não corrompa a virgindade do real. 


A autenticidade aparece implicada na fruição estética de modos diversos, constituindo um dos pilares axiológicos do campo artístico, independentemente do regime histórico em que o situemos. No entanto, o contrato implícito da arte com a autenticidade contrasta radicalmente com a polissemia do último conceito. Como descrever esta autenticidade na sua transversalidade às mais diversas formas de expressão artística? De que modo é que ela opera no processo de validação das diferentes poéticas? Como é que ela se manifesta ao longo de diferentes regimes históricos e o que é que dela resiste às sucessivas revoluções paradigmáticas no mundo da arte? O que é a autenticidade propriamente estética?


(…)


Todos os capítulos reunidos neste livro resultaram do convite endereçado a autores internacionais nas áreas da estética, antropologia e estudos fílmicos, no sentido de participarem numa discussão renovada e abrangente sobre a noção de autenticidade estética aplicada ao cinema. As contribuições, como esperado, são ecléticas, mas ao mesmo tempo bastante consensuais nas linhas de investigação apontadas, bem como nas conclusões. 


Através do conjunto de textos originais aqui compilados, procuramos salientar a importância que o conceito de autenticidade estética continua e certamente continuará a ter no mundo do cinema e das artes em geral, influindo nas orientações poéticas da criação artística e nas exigências dos espectadores, críticos, programadores e outros agentes decisores do valor estético do cinema no seu enquadramento cultural, social e histórico.

                                                              (Da Introdução)


PUBLICAÇÃO: FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DO PORTO (FLUP)
COLEÇÃO: ESTÉTICA, POLÍTICA E ARTES
COORDENADORES DA COLEÇÃO: EUGÉNIA VILELA E NÉ BARROS

ANO: 2023

 


 

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