JONAS MEKAS 
Lithuania, EUA

“Os meus diários cinematográficos 1970-1999. Abrangem o meu casamento, crianças nascem, o espectador vê-las a crescer. Metragem da vida do dia-a-dia, fragmentos de felicidade e beleza, viagens a França, Itália, Espanha, Áustria. Estações do ano à medida que passam por Nova Iorque. Amigos, a vida em casa, natureza.
Nada de extraordinário, nada de especial, coisas que nós todos experimentamos assim que atravessamos as nossas vidas. Há muito entre-títulos que reflectem os meus pensamentos desse período. A banda sonora consiste de música e sons gravados a maioria durante o mesmo período, no qual as imagens surgiram. As improvisações de piano são da autoria de Auguste Varkalis. Por vezes falo para o gravador de voz, ao mesmo tempo que edito essas imagens, agora, com distância no tempo. O filme é também um poema de amor para com Nova Iorque, os seus Verões, os seus Invernos, ruas, parques. É o último Dogma “95 antes antes do nascimento de Dogma”. J.M

“Mekas conta histórias fora do ecrã com uma voz esganiçada de um homem próximo dos 80, que tem gozo em dizer, de vez em quando, aos seus espectadores que nada acontece nos seus filmes. Essa é a verdade honesta, e ainda assim nenhum dos 228 minutos é aborrecido. A razão pode passar por Mekas ter expurgado qualquer intenção de propósito nas imagens. A única regra orientadora é a coincidência, a qual o séptico radical Mekas vê como a única entrada para a verdadeira realidade. Só a coincidência absolutamente ingovernável prepara o caminho para o ecstasy de tornar alguém consciente da beleza, de outra maneira numa vida normal.”
Mark Siemens, Frankfurter Allgemeine Zeitung

 

AS I WAS MOVING AHEAD OCCASIONALLY I SAW BRIEF GLIMPSES OF BEAUTY (2000)

26 Qua. | Sessão de Abertura
Hard Club | Mercado Ferreira Borges, Porto
 
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Jonas Mekas sobre o seu filme: “As I was Moving Ahead ... é um registo de sentimentos, emoções e alegrias quotidianas subtis de pessoas gravadas nas suas vozes, faces e pequenas actividade diárias de pessoas que eu conheci, encontrei ou vivi ou observei algo que eu tenho vindo a gravar há muito anos. Isto, contrariamente a actividades espectaculares, divertidas, sensacionais, dramáticas, as quais dominam muito do cinema contemporâneo.
Agora, tudo isto tem a ver com o meu entendimento de que actos realmente afectam mudanças positivas no homem, sociedade, humanidade. Estou interessado em gravar o subtil, o quase invisível dos actos, experiências, sentimentos, contrariamente às actividades duras, severas, ruidosas e às acções politicas, em especial os sistemas políticos do nosso tempo.

Como realizador estou a tomar uma posição para com a política que tem sido praticada por alguns artistas da minha geração, que acreditavam que as contribuições essenciais, positivas para a protecção e continuação do melhor na humanidade, têm sido feitas, digamos, por John Cage ou Albert Camus, e não por alguma grande figura política do séc. XX. Contudo o filme não é concebido como um documentário. Segue uma tradição estabelecida por poetas fílmicos modernos. Estou interessado em intensificar os momentos fugazes da realidade através de uma forma pessoal de filmar e estruturar o meu material. Muita importância tem sido dada à cor, movimento, ritmo e estrutura todos muito importantes para o assunto que eu procuro. Tenho passado muito anos a desenvolver e aperfeiçoar uma forma de captar a imediaticidade sem interferir com esta, sem a destruir. Acredito que algum do conteúdo que tento gravar com a minha câmara e partilhar com outros pode ser apanhado somente muito indirectamente através de um intenso envolvimento pessoal.”

 

WALDEN (DIARIES, NOTES AND SKETCHES) (1969)

29 Sáb. | Sessão 8
Auditório Grupo Musical de Miragaia
 
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“Desde 1950 tenho mantido um diário cinematográfico. Tenho passeado com a minha Bolex e reagido à realidade imediata: situações, amigos, Nova Iorque, estações do ano. Em alguns dias gravo 10 quadros, noutros 10 segundos e ainda em outros 10 minutos. Ou não gravo nada. Quando alguém escreve um diário, isso é um processo retrospectivo: senta-se, revê o dia e escreve sobre este. Manter um diário cinematográfico é reagir (com a máquina de filmar) imediatamente, agora, neste instante: ou consegues o registo agora, ou não nunca mais o consegues. Voltar e gravá-lo mais tarde significa ter de reencenar, quer sejam eventos ou sentimentos.

Para o conseguir agora, quando acontece, requer um domínio total do instrumento usado (neste caso a Bolex): esta tem de registar a realidade à qual eu reajo e também tem de registar o meu estado de espírito (e todas as memórias) à medida que eu reajo. O que também significa, que eu tinha de fazer toda a estruturação (edição) aí mesmo, durante a filmagem, na máquina de filmar. Toda a metragem que se vê em WALDEN é exactamente como saiu da máquina de filmar; não há forma de conseguir isso na sala de edição sem destruir a sua forma e conteúdo. WALDEN contém material dos anos de 1964-68 junto por ordem cronológica. Como banda sonora usei alguns sons que recolhi durante o mesmo período: vozes, metropolitanos, muito barulho da rua, trechos de Chopin (Sou um romântico), e outros sons tanto significantes como insignificantes. “As pessoas dizem-me, eu deveria procurar sempre, mas eu estou somente a celebrar o que vejo” – (da banda sonora) “Eu faço vídeos caseiros, por isso vivo. Eu vivo, por isso faço filmes caseiros.” – (da banda sonora).” J. M.

 

Biografia

 

Jonas Mekas nasceu na Lituânia. Em 1944 ele e o seu irmão Adolfas foram levados para um campo de trabalhos forçados Nazi. Depois da guerra Mekas estudou Filosofia na Universidade de Mainz, Alemanha. Em 1949 os dois irmãos chegaram a Nova Iorque, onde se instalaram em Brooklyn. Pouco depois Mekas ficou profundamente envolvido no movimento cinematográfico Avant-Garde Americano. É-lhe atribuído em grande parte o mérito por desenvolver formas de cinema diarista. Mekas continua a escrever poesia e fazer filmes e desenvolver actividade académica. Desde 2000 Mekas tem expandido o seu trabalho na área de instalações de filme.