17 NOV | 23H30-00H15 | PASSOS MANUEL

Haarvöl - The Oblivion's Wordless Knot

FILME-CONCERTO

(ver teaser)

 

Os tempos mediáticos do nosso presente ensimesmado buscam a instantaneidade. Um tempo que anule o tempo. Tempos que afirmam o esquecimento como matriz necessária à perpetuação do presente. Um tempo presente que faz contínuo acto de presença.

A obra que agora se mostra quer reflectir sobre as três dimensões do tempo: passado, presente e futuro. Olha para trás de forma deliberada para saber como olhar para a frente. A anestesia do presente esforça-se por colocar à distância os distúrbios do tempo e, também, do espaço. O esquecimento e a fragilização da memória jogam aí um papel determinante.

De entre as muitas formas de “tempos amotinados”, algumas existem absolutamente esquecidas e em profundo desconhecimento.  É o caso da guerrilha galega conhecida por “Maqui”.

Os maquis estiveram activos na Galiza desde o final da Guerra Civil espanhola até ao final dos anos sessenta. De entre eles, alguns foram presos, torturados e assassinados pela polícia. Como o caso de Benigno Andrade, conhecido como o Foucellas. Guerrilheiro activo até à sua morte por execução no interior da prisão no ano de 1952.

É a partir deste contexto que desenvolvemos a peça “The Oblivion's Wordless Knot”. Como sempre no nosso trabalho, a abstracção dos sons combina-se num todo com o real das imagens que os acompanham. E, contudo, longe de qualquer carácter ilustrativo mútuo. Sons que contribuem decisivamente para o espessamento das imagens e imagens que produzem o efeito de activação da memória necessária. Uma aproximação ao “archival impulse” como proposição operativa.

Uma combinatória de sons e imagens que escapam aos patamares do tempo em que se encontram formatados. Analógicos ou digitais segundo as necessidades narrativas presentes e, por isso mesmo, libertos da pressão do tempo. Os resultados, esses, remetem-se para uma condição aparentemente paradoxal de convivialidade saudável entre uma ideia de obsolescência e a capacidade de arriscar. Será, aliás, dessa unidade resistente (à dissolução do tempo e, logo, da possibilidade contemplativa e reflexiva) que será possível edificar aquilo a que chamamos contemporaneidade. É aí que queremos estar e em forma de tempos amotinados... outra vez. 

 

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Haarvöl é um projeto eletrónico / experimental com sede em Portugal e que trabalha desde o final de 2012. No seu núcleo estão Fernando José Pereira e João Faria, mas desde o início está aberto a colaborações com outros. Como já aconteceu com Paulo Rodrigues e Xóan-Xil López (um especialista espanhol em gravações de campo) e, ultimamente, com a junção de Rui Manuel Vieira (um artista visual) que agora é responsável por toda a componente visual da banda.

A música de Haarvöl é conceptualmente desenvolvida como exploração das propriedades do som para alcançar ambientes cinematográficos e de imagem. Os sons não se restringem às suas origens media: fontes digitais e analógicas são usadas e misturadas em composições intrincadas com especial atenção aos detalhes.

A ênfase na interação não-ilustrativa de som com imagens é evidente nos vídeos propositadamente preparados para certas composições.

Três álbuns compreendem a discografia de Haarvöl. Hebetude foi lançado em 2014 pela editora portuguesa PAD / Easy Pieces. Indite foi lançado em 2015 e já este ano Bombinate na editora holandesa Moving Furniture Records.

As suas instalações exploram profundamente as possibilidades site-specific para criar uma experiência inteira e intensa no público. Algumas dessas instalações foram apresentadas em eventos importantes no campo da arte contemporânea como a Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra, Portugal (2015) ou no Museu de Serralves, Porto, Portugal (2016) outros como "uma possibilidade de concerto" como o projeto intitula as suas apresentações ao vivo como, por exemplo, na exposição "Them or Us".