Textos de
Maria Augusto Babo, Joana Hurtado Matheu, João Sousa Cardoso, Paolo Simoni & Ilaria Ferretti, António Preto, Regina Guimarães, Renny o'Shea & Richard Gregory e Eugénia Vilela.
SINOPSE
Esta edição estrutura-se em duas partes. A primeira parte reúne uma colecção de textos que abordam a temática familiar de formas diversas recriando-nos um mapa de problemáticas inesgotáveis e estimulantes. A segunda parte consiste na apresentação do programa que compôs a sessão inaugural do ciclo FFFilm Project.
DE CERTAS PRÁTICAS DE SUBJECTIVAÇÃO, Maria Augusta Babo
Trata-se de entender as práticas de subjectivação como aquisição de técnicas, desempenhando o papel de "arte para a vida" - technê tou biou - segundo o entendimento que delas tinham os Gregos na antiguidade. Dessas técnicas de subjectivação e, simultaneamente, de transubjectividade, destacam-se as que relevam da escrita pois definem, nos seus usos e efeitos, o paradigma dos dispositivos de inscrição.
Num segundo momento, trata-se de entender como a corporeidade do humano determina e delimita um espaço que lhe é familiar e dentro do qual estabelece o chez-soi. Lamçam-se assim algumas pistas para pensar a constituição da subjectividade como uma ecologia do próprio.
ACUERDOS Y DESACUERDOS - El imaginario familiar del álbum en el cine contemporáneo, Joana Hurtado Matheu
A família é uma convenção sociocultural cujo modelo tradicional tem sido fixado pelo álbum de fotografias clássico e difundido por grande parte da produção cinematográfica. Contudo alguns filmes do cinema contemporâneo revelam-nos outros tipos de família, questionando tanto vínculos que a formam como memória que a deixam no nosso imaginário. Através da análise de Família de Fernando León de Aranoa, Kynodontas de Giorgios Lanthimos, Tren de sombras de José Luis Guerin, Festen de Thomas Vinterberg e Carnage de Roman Polanski, a identidade supostamente estável da família separa-se, descobrindo o pacto identitário de toda a representação, às vezes registo e criadora de realidades.
A CINEFILIA, João Sousa Cardoso
A multiplicação de câmaras de vídeo, nas últimas décadas, fez-nos acreditar que assistiríamos, doravante, a um cinema mais livre e íntimo. Aquilo a que assistimos hoje é à grande corrente das imagens vernaculares. O que poderá ser então uma nova familiaridade no cinema pós-vídeo?
HOME MOVIES - ARCHIVO NAZIONALE DEL FILM DI FAMIGLIA, Paolo Simoni e Ilaria Ferretti
Neste artigo os autores reflectem no seu trabalho na instituição Home Movies - Archivio Nazionale del Film di Famiglia, a qual tem o seu objectivo de recolher, tratar e divulgar filmes caseiros e amadores da região italiana de Emilia-Romagna. Estes filmes são depois mostrados por toda a Itália, quer em sessões de projecção, quer em exposições. O valor cultural destes objectos, ao mesmo tempo privados e públicos, revela-se enorme quando se fala de uma auto-representação da sociedade.
GOSTO DOS SANTOS DA CASA E DOS MILAGRES DA RUA, Regina Guimarães
A minha família é essa e outra. Aos arrepios dos parentescos tirânicos. O meu cinema também. Ao arrepio dos profissionalismos paralisantes. Porque os sonhos assim, talvez se concretizem, à medida que eu me concretizo.
WHAT MORE DO YOU WANT? A FAMILY TREE OF QUARENTINE'S WORK WITH THE FAMILIAL AND THE FAMILIAR, Renny O'Shea & Richard Gregory
Renny O'Shea e Richard Gregory, directores artísticos da companhia de teatro britânica Quarantine, colocam questões à volta da família, o familiar e a pertença, as quais emergem do seu trabalho com performers, que possuem na vida real relações familiares. Ilustrados através de uma série de fragmentos tanto de processos como de performances, extratos de texto e imagens de produções, o artigo explora este território dentro do qual o trabalho do Quarantine oferece um gosto incisivo da sua forma única.